sexta-feira, 13 de junho de 2014

OPINIÃO: A Sul, nada de novo


O Povo da Guiné-Bissau acabou de eleger nas urnas um Governo e um Presidente da República. Até aqui, nada de novo. Nada a Sul, portanto. Muita gente pensa que as coisas acabam aqui. Engano. É agora que as coisas vão começar. Como primeiro-ministro, Domingos Simões Pereira tem uma tarefa tão árdua quanto foi a nossa luta de libertação nacional.

Para começar, vejamos a composição da bancada do PAIGC no parlamento: dos 57 deputados, num total de 102, dez pertencem à chamada ala do Braima Camará. Não esquecer Cacheu parece ser o lema. E a formação do Governo está a ser outra dor de cabeça. A substituição de António Indjai - e o que fazer a seguir com ele - será o cabo das tormentas.

Muito se tem falado em Sandji Fati, um antigo chefe do Estado-Maior do Exército durante a presidência de Nino Vieira, que depois da queda deste afastou-se voluntariamente das forças armadas para se dedicar à actividade comercial e exploração de minérios. Por essa razão, é quase impossível Sandji embarcar num barco que bem conhece e onde é perigoso navegar com ventos defavoráveis.

Além disso, há ainda que contar com as eventuais objecções que os revoltosos (maioritariamente balantas) poderão levantar (quem protegerá o Indjai, e como?) para além do facto de os militares ainda não esquecerem que Sandji Fati esteve do lado de Nino Vieira no conflito que o opôs à Junta Militar, em 1998. E na Guiné-Bissau, é tristemente sabido, o prestígio acaba sempre mal...

Já o Presidente da República, José Mário Vaz, terá menos trabalho mas não menos responsabilidade: ele é, afinal, o comandante Supremo das Forças Armadas, a mais irrequieta da costa ocidental africana. JOMAV tem, primeiro, que acabar com o batalhão da Presidência. São centenas de homens, talvez até uma companhia, alimentada a carne e frango e que nada acrescenta à segurança do palácio, bem pelo contrário...conhecemos a história de cor e salteado.

Depois, Bissau não precisa de ter cinco ou seis quartéis. Se repararem, os quartéis que cercam a cidade e os seus arredores têm apenas um condão: tornar os seus habitantes autênticos reféns da canalha. Não temos inimigos internos que não as nossas próprias forças armadas. Assim, ala com eles para protegerem as nossas fronteiras dos nossos verdadeiros inimigos - o Senegal, e a Gâmbia; e ter um olho na Guinée. Just in case... Disse. António Aly Silva