quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Maleabilidade político-negocial da CEDEAO influencia Governo


1 . As atitudes de aproximação ao PAIGC, recentemente postas em marcha pelas actuais autoridades guineenses (abrangidos sectores da sociedade civil descritos como não afectos às mesmas), são decorrência de pressões da CEDEAO, por sua vez justificadas pela conveniência de se encontrar uma solução rápida para a crise na Guiné-Bissau.

A linha que a CEDEAO está agora a seguir na abordagem do problema da Guiné-Bissau, marcada por uma maior flexibilidade de posições, também ficou patente numa reunião dedicada ao assunto que nos dias 01/02.Dez juntou em Adis Abeba representantes seus, da CPLP, União Africana, União Europeia e ONU.

A CEDEAO em geral, mas em particular os seus principaís membros, Nigéria e Costa do Marfim, denotam cansaço em relação ao problema da Guiné-Bissau. Recentemente, a Rep da Guiné, não atendeu um pedido urgente de ajuda financeira da parte da Guiné-Bissau; comporometeu-se a corresponder apenas num “quadro político diferente”.

2 . O severo isolamento internacional a que o regime pós-golpe de Estado se sujeitou (suspensos todos os progranmas de ajuda), forçou a CEDEAO a providenciar apoios financeiros, e outros, destinados a assegurar o funcionamento do Estado. As ajudas têm, porém, vindo a diminuir; em Nov houve problemas com o pagamento dos salários.

A Nigéria e Costa do Marfim denotar sentir necessidade, por estritas razões financeiraas, de pôr termo e/ou abrandar o esforço que a crise na Guiné-Bissau acarreta para ambos.. Mas aparentemente também querem encerrar o assunto por imperativos de ordem política relacionados com os seguintes factores – em especial:

- Enfrentam problemas internos de tipo sedicioso; o seu envolvimento num problema que apresenta nos seus primórdios uma rebelião contra um Governo legalmente em funções, tende a criar-lhes embaraços políticos e morais; o “script” dos seus adversários internos apresenta parecenças com os autores do golpe de Estado na Guiné-Bissau.

- Um arrastamento da crise política na Guiné-Bissau demonstra incapacidade da CEDEAO e tende a “encorajar” situações anormais noutros países da região; os autores do golpe de Estado não foram responsabilizados, o status quo vingou e não foi ainda alcançada uma solução política para o problema.

3 . Na lógica da presente flexibilidade da CEDEAO é tido em conta um conceito segundo o qual uma solução efectiva da crise na Guiné-Bissau não pode marginalizar o PAIGC e sectores da sociedade com ele identificados ou próximos. É o partido mais organizado e mais representativo.

O forcing da CEDEAO no sentido de se alcançar o mais breve possível uma solução para o problema da Guiné-Bissau, transmitindo à mesma suficiente solidez, esteve na origem da oposição que moveu a planos considerados “enganosos” dos militares, aliados ao PRS, de dissolver a Assembleia Nacional Popular e impôr um regime de transição de 2 anos. A CEDEAO, que enquanto tal e/ou através de membros influentes, teve um papel instigador no golpe de 12.Abr, pretende igualmente que a sua intervenção na crise tenha um “fim honroso”. Na sua perspectiva tal desígnio será alcançado com a realização de eleições em Abr.2013 e com o início do processo de reforma das FA.

A sua única reserva, de momento, é em relação a um regresso ao país de Carlos Gomes Jr, que antevêm como podendo vir a constituir um foco de instabilidade – ou pior. Não se opôs a que uma delegação do Governo deposto, encabeçada por Djaló Pires, ex-MNE, se deslocasse a Adis Abeba para a referida reunião. A delegação do Governo, chefiada pelo actual MNE, Faustino Embali, é que não compareceu em Adis Abeba. Ao ser informado em Dacar de que uma delegação das anteriores autoridades também estaria presente, Faustino Embali, depois de uma consulta às autoridades em Bissau, decidiu regressar ao país.