quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Reabilitação de Bubo Na Tchuto para reduzir tensões nas FA


1 . O Alm Bubo Na Tchuto está em vias de retomar o cargo de CEM da Marinha (agora exibindo nas insígnias 3 estrelas, em lugar de apenas 2). A medida, objecto de sucessivas reuniões nos últimos dias, nalgumas das quais o próprio participou, é relacionada com a necessidade de esvaziar tensões internas (AM 701) nas FA.
O reavivamento recente de um antigo ambiente de disputas e desconfianças entre o actual CEMG, Gen António Indjai, e o Alm B Na Tchuto foi apontado como um dos principais focos de tensões – que com o regresso deste ao cargo de CEM da Marinha se considera poder dissipar.

Episódios considerados ilustrrativos das sinuosas relações entre ambos:

- Em Ago.2008, A Indjai, então T/Cor, comandante do Batalão de Mansoa, é um dos militares que acusa o então Comodoro B Na Tchuto, CEM da Marinha, de implicação numa conspiração contra o então Presidente Nino Vieira (por efeito do que abandona o país e se refugia na Gâmbia).

- Cai um ano depois (a seguir ao assassinato do ex-CEMG, Gen Tagme Na Waie), B Na Tchuto regressa clandestinamente a Bissau e refugia-se no escritório da ONU, de onde foi retirado, 01.Abr.2010, sob protecção de militares às ordens de A Indjai – que nesse dia se havia amotinado e derrubado o então CEMG, Alm Zamora Induta; A Indjai terá então, intencionalmente, procurado cativar B Na Tchuto, tendo em conta a conhecida antipatia deste por Z Induta.

- B Na Tchuto, ilibado pela Justiça Militar, retoma entretanto o cargo de CEM da Marinha (sob seu comando directo continua uma força de 300 Fuzileiros). Em Dez.2011 foi, porém, novamente afastado e detido por A Indjai, sob acusação de estar a preparar uma intentona contra o Governo de então, de Carlos Gomes Jr; ficou preso, em Mansoa, até há ca 2 meses.

Em Set o CEMG pôs em marcha um plano de promoções nas FA que contemplaria chefes e comandantes militares. A medida foi protelada em razão de resistências internas baseadas em argumentos como o que seria necessário resolver “o problema de B na Tchuto”; a sua reabilitação plena é, por isso, embaraçosa para A Indjai.

2 . O facto de ambos terem a categoria de figuras referenciais das FA, embora B Na Tchuto se considere superior a A Indjai, e de também terem origem étnica comum (balanta) faz com que as desavenças e rivalidades entre si tenham projecção no meio militar, no seu todo, e também na sua tribo/base étnica.

A reabilitação de B Na Tchuto como CEM da Marinha (paralelamente, A Indjai passará a ostentar uma quarta estrela de general), foi aventada e encorajada por um “conselho” de dignitários balantas com influência nas FA, entre os quais predomina Kumba Yalá, secundado por Artur Sanhá e por figuras do PRS, partido étnico-tribal.

O “leitmotiv” do “conselho” consiste em preservar o chamado “poder balanta”, especialmente presente nas FA. A antiga autoridade de K Yalá como “principal chefe
balanta” tem vindo a perder fulgor nos últimos anos, em especial à escala da etnia balanta, mas ainda goza de ascendente apreciável em meios militares.

Há cerca de 5 dias, Sola N’Quilim, antigo dirigente e lider parlamentar do PRS e membro de um dos governos de K Yalá, referiu-se desprimorosamente a este, tratando-o em público (entrevista a um jornal de Bissau), como “violento” e movido por consciência e instintos tribais.

3 . Meios com capacidade adequada para acompanhar o “inside” da situação político-militar sustentam que as tensões nas FA têm, além desta, outras causas, incluindo algumas relacionadas com a presente situação política (e face às quais um aparente apaziguamento A Indjai/B Na Tchuto tem limitados efeitos amenizadores).

Por ex, está identificada uma corrente interna nas FA, descrita como “básica”, que defende ostensivamente a substituição do actual Presidente de transição, Serifo Namadjo, por K Yalá; outra, mais polida, considera prioritária uma reposição da legalidade institucional nas FA para salvaguarda do seu futuro.

Os adversários de S Namadjo agitaram-se por efeito do encontro que o mesmo manteve em Nova Iorque com Raimundo Pereira. Também contrariaram, inclusive em público, declarações do mesmo segundo as quais o PR e o PM depostos pelo golpe de Estado de 12.Abr poderiam regressar ao país.

A mais recente das reuniões consideradas de “alto nível” que nos últimos dias têm tido lugar em Bissau, 13.Out, juntou S Namadjo e os militares, incluindo alguns sem funções de chefia. Não foi apurado, em concreto, de qual das partes partiu a iniciativa da reunião.

O contingente senegalês da força da CEDEAO estacionada em Bissau, ECOMIB, nominalmente constituído por uma companhia de engenharia e uma equipa médica, também é objecto de rumores fomentadores de mal estar nas FA. Considera-se que o contingente oculta um braço da “renseignement militaire” e outro de operações.

De acordo com os referidos rumores, o intuito do Senegal é preparar operações contra o movimento separatista do Casamansa, MFDC. Contará, para tal, com a cumplicidade dos chefes militares guineenses. As autoridades militares senegalesas consideram uma faixa N da Guiné-Bissau como “base de refúgio” da guerrilha do MFDC.

A má reputação que os chefes e comandantes militares guineenses têm entre as restantes camadas de oficiais, também decorre da ideia de que os mesmos tiram “proveitos pessoais” de préstimos a que sujeitam as FA (ou parte delas), dos quais fazem parte compromissos informais como os que se julgam existirem com o Senegal. AM