sábado, 30 de junho de 2012

IV Fórum dos Produtores: Kangaluta ku Produtos di Terra na Tempu di Crisi


Declaração de Djalicunda

Nós, camponesas e camponeses parceiros das Organizações de apoio integrantes do Grupo de Trabalho de Promoção de Produtos da Terra (GTPPT), vindos de todas as regiões do país, e reunidos no quadro do IVº Fórum dos Produtores sob o Lema: Kangaluta ku Produtos di Terra na Tempu di Crisi, organizado pela Tiniguena, em parceria com o GTPPT, no quadro do projecto Kil ki di nos ten balur, financiado pela União Europeia e o IPAD, reunidos entre os dias 27 e 28 de Junho de 2012 em Djalicunda, no Centro Campones da Kafo, gostariamos antecipadamente de lançar à sociedade guineense o seguinte apelo:

. Considerando a sucessão das crises no país, e em particular aos últimos acontecimentos de 12 de Abril, que afectou consideravelmente os produtores de todas as regiões da Guiné-Bissau, que tiveram que vender a sua produção agrícola a um baixo custo;
. Considerando ainda, esta mesma crise, que resultou na perca das sementes para a nova campanha agrícola, e a dificuldade que os agricultores enfrentam na comercialização dos seus produtos;
. Considerando os riscos que a crise vem provocando nos valores tradicionais-ancestrais de relação socioprodutiva existente entre produtores;
. Considerando que a crise provoca sobrecarga aos produtores com a deslocação dos familiares (e não só) para o campo;
. Considerando as tentativas da camada política e militar de semear a divisão étnica por meio do incentivo a agressão verbal, moral e física, que vem resultando na divisão da sociedade guineense;
. Considerando o não reconhecimento por parte da comunidade internacional do governo de transição vigente o que originou na suspensão do financiamento às organizações de apoio;
. Considerando que a comunidade local responsável pela conservação e gestão dos recursos florestais tem acesso limitado a exploração dos mesmos;
. Considerando que a falta de continuidade dos governos, tendo em conta o seu período legal de duração, afecta o processo de conservação dos recursos florestais comunitários;
. Considerando que os meios de comunicação social têm um papel fundamental na promoção da cultura de paz e estabilidade;
. Analisando e respondendo as preocupações dos produtores face as crescentes ameaças a que estão expostos e que podem, caso não forem tomadas medidas adequadas, colocar em risco a coesão e solidariedade social;
 
Nós, camponesas e camponeses presentes no IVo Fórum dos Produtores em Djalicunda denunciamos:

1. O estrangulamento à comercialização dos produtos locais ocasionado pelo golpe de estado de 12 de Abril;
2. A paralização das nossas actividades realizadas em colaboração com as organizações de apoio;
3. A escassez de sementes para o ano agrícola em curso, visto que esta teve que ser consumida devido ao aumento do número do agregado familiar que viu-se obrigado a refugiar-se no interior do país, fugindo do clima de incerteza e instabilidade;
4. A tentativa por parte da camada política e militar de instaurar no seio da sociedade guineense a divisão através do incentivo a estigmatização étnica;

Por isso, nós camponesas e camponeses presentes no IVo Fórum dos Produtores em Djalicunda, nos engajamos à:

1. Aumentar a nossa união para juntos podermos fazer face às constantes crises as quais somos arbitrariamente submetidos;
2. Sensibilizar a nossa população para a valorização e consumo dos produtos locais;
3. Trabalhar com os nossos parceiros, com o objectivo de obtenção de uma Certificação Participativa para os nossos produtos, de acordo com as leis internacionais vigentes, permitindo escoamento destes para mercados que pratiquem o Comércio Justo ;
4. Recusar todo e qualquer tipo de práticas e discursos políticos que induzam a divisão entre nós, guineenses, usando como argumento as nossas diferenças étnicas;
5. Criar um fundo de solidariedade nacional;
6. Promover com a ajuda das organizações de apoio a permuta de produtos (sementes, viveiros e experiências comunitárias) entre nós.

Feito em Djalicunda a 28 de Junho de 2012

Organizações membros do Grupo de Trabalho: