quinta-feira, 3 de maio de 2012

Opinião: CEDEAO legitima golpe de Estado na Guiné-Bissau



...e agora, valha-nos as Nações Unidas. O Senegal, um país que é também nosso vizinho, e que não pode nem quer o nosso bem tomou a dianteira para organizar uma mini-cimeira que se tornou num presente envenenado para Guine Bissau. A frase, que pertence ao seu recém eleito presidente, Macky Sall, sobre "a CEDEAO não ser uma força de ocupação", e, outra ainda, sobre o reforço da presença militar senegalesa, na Guiné-Bissau, foi o murro no estômago que eu, mais do que prever, temia. Ou seja, podemos tornar-nos numa...província senegalesa - qualquer coisa como Casamance ou outra qualquer.

Em Dakar, foi tudo ao contrário. A divergência de interesses e particularmente a intenção do Senegal em ter a Guiné-Bissau em permanente estado de instabilidade, criou dificuldades para se chegar a um consenso. Estranhamente, a Guiné-Conakry alinhou, tendo mesmo sugerido, encapotadamente, uma eventual "renúncia" tanto de Raimundo Pereira como de Carlos Gomes Jr, isto porque e a seu ver "o conflito não interessa à sub-região". Um golpe de Estado será a solução, portanto. Mas foi esta mesma CEDEAO que proclamou aos quatro ventos a "tolerância zero" perante situações de alteração da ordem constitucional por via da força...

Criou-se um impasse e muita tensão, e as partes acabaram por não chegar a um entendimento. As Nações Unidas e a CPLP estão com os cabelos em pé e não pretendem ficar com os braços cruzados perante o que consideram ser uma "monstruosidade que se está a preparar contra a Guiné-Bissau". A CPLP reagirá sábado, em Lisboa, mas, amanhã ainda, espera-se por uma declaração do ministro guineense dos Negócios Estrangeiros, Mamadu Saliu Djaló Pires. A ONU, por sua vez, reúne na próxima segunda-feira para se debruçar sobr o 'dossier' Guiné-Bissau.

Enquanto tudo isto se desenrola, o País continua praticamente paralisado. Não há energia eléctrica, a cidade tem apenas quatro ruas iumindadas, graças a painéis solares. Bissau corre o sério risco de ficar sem água potável, aproxima-se a época das chuvas e a cólera já deu sinal em Tomabli e Bolama. Recorde-se que quase todos os organismos internacionais expulsaram ou cancelaram ajudas à Guiné-Bissau, os funcionários públicos não receberam os seus salários, a administração pública está praticamente parada.

No que me diz respeito, como cidadão da Guiné-Bissau, como cidadão de um país que é membro da CEDEAO, não posso deixar de me sentir envergonhado, e, sobretudo, traído. Resta-me esperar e confiar que a CPLP, organização a que orgulhosamente pertenço, e a Organização das Nações Unidas, organismo transversal a essas duas entidades, possam, com sangue frio e com firmeza tomar uma posição intransigente em defesa das instituições da República, da Democracia e, sobretudo, do Povo da República da Guiné-Bissau. AAS