quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Será o absurdo... Inconstitucional?

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Cerca de um milhão, quinhentos e noventa e nove mil guineenses ainda não perceberam patavina do que temos assistido. Falo da guerrilha, quase em surdina, entre a Presidência da República e a Primatura, ou, se quiserem entre o Presidente da República, Malam Bacai Sanha e o Primeiro-Ministro, Carlos Gomes Jr. É evidente que os dois não se aturam, nem um bocadinho mesmo.

Começou a desenhar-se em Gabú, regressou depois para a sede dos libertadores, para a sua aprovação e efectivação; agudizou-se pouco depois, na França, com a famosa declaração do PR Bacai Sanha à Jeune Afrique: «Há políticos envolvidos nos assassinatos políticos (de 2009)». Para além desta frase cair que nem uma bomba, ela disse outra verdade: qualquer assassinato neste País foi encomendado por políticos!!! Nem mais.

Na altura, contudo, muitos protestaram dizendo que o PR não podia fazer essa declaração. Mas, olhem que podia... O PR (tocaria a qualquer um de nós) quando fez essa declaração não estava coberto pelo segredo de Justiça. Essa é que é a verdade. Hoje, contudo, o PR não a faria.

A crueza que muitos viram na declaração do PR tem no entanto uma explicação. O Primeiro-Ministro terá ofendido o Presidente da República quando este foi designado candidato à Presidência da República pelo PAIGC. Na altura, a frase de Cadogo Jr entrou para a história do dicionário político/anedotário nacional: «Bom, depois não me venham pedir dinheiro para o tambor». E ainda pelo 'caso Frente Polisário' na tomada de posse de Bacai, que levou à demissão de Cancan do Ministério que tutelava - o dos Recursos Naturais.

O PR ter-se-á então vingado, dizendo a verdade ao povo guineense, sobre aquilo que leu na França. Pode até questionar, caro(a) leitor(a), se a provocação do PM foi perversa, ou se a resposta (ou troco) do PR foi de uma maldade desproporcionada.

Resta ao PM a consolação de, pelo menos, ter tentado fazer a vida negra ao PR; o PR, por seu lado, defendeu-se muito bem. Ambos baralham-se. Se o PM diz uma coisa e pratica outra, o PR diz outra coisa e pratica exactamente o inverso. E acabam por nos baralhar.

Contudo, ambos já se devem ter dado conta de que, na Guiné-Bissau, o absurdo não é inconstitucional. E, sim, é possível que tenham as suas razões. Caros Presidente da República e Primeiro-Ministro: pela primeira vez estou de acordo convosco.

Consensualmente, António Aly Silva