quinta-feira, 24 de fevereiro de 2005

Primos e enteados ou perfeitos anormais

Devido à velocidade da luz ser superior à do som,
algumas parecem inteligentes até falarem. Ou agirem.
PRIMOS. Repare nestas hipotéticas figuras de eleição. Barrete de Pai Natal e colar de ouro. Fatinhos pomposos. Bom corte – talvez feitos à medida, talvez não. São eles os doutores Yalá, Sanha, Vieira e Fadul. Ou, se preferirem, os camaradas Koumba, Malam, João Bernardo e Francisco José.
E o que têm em comum estas quatro criaturas? Fácil: Deve-se a eles o País que há hoje (a dívida prolonga-se aos demais tentáculos que sempre o dominaram). Esta gente não será a pior, porque qualquer selecção é redutora. Mas serão dos piores, e servem pelo menos para «ilustrar», mais do que resumir, as três primeiras décadas de vida da República da Guiné-Bissau. NUNCA MAIS!
ENTEADOS. Agora, anda toda a gente num corrupio desenfreado. Falam em voz alta e gesticulam. Estarão em transe? Apresentam documentos de porte – é CIF Bissau para aqui, FOB Bissau para lá e por aí adiante, de forma arbitrária. Mas o que reclamam eles? Olha a pergunta! Reclamam o pagamento da dívida interna. Ou seja, a dívida do Estado para com as suas empresas. Óptimo. Eu também reclamava. Sem palhaços não há circo. Mas, agora, vamos partir isto devagar, que é como sabe melhor.
NÓS, os guineenses, vimos reclamar junto do Governo democraticamente eleito da República da Guiné-Bissau: que mande publicar a «dívida interna» dessas pessoas ao Estado da Guiné-Bissau.
Depois – Guterres não diria melhor – hum…, deixa lá ver… bom, é só fazer as contas…
Talvez um dia, civilizadamente e com a humildade que nos caracteriza, nos decidamos por tornar público os nomes – e, já agora, as quantias – daqueles que se afastaram dos «caminhos da revolução» e que se deixaram aburguesar.
Sejamos verdadeiros. Se houve uma coisa que sempre existiu na Guiné-Bissau foi uma corrupção e uma utilização da calúnia muito marcantes. Fosse de uma forma isolada, através de lobbies ou de compadrios por conveniência. E doses industriais de descaramento.
Aliás, se a Guiné-Bissau alguma vez fosse uma democracia a sério, muita gente – mas muita gente mesmo – teria sido julgada e condenada com base em provas irrefutáveis. Outros estariam, ainda hoje, a cumprir pena e quem ficava ganhar era o povo guineense.
Mas não. Hoje, quando sonho, é um pesadelo. Uns dias atrás, sonhei que numa madrugada qualquer uns homens acabaram com o franco CFA, fosse ele novo ou velho, e fizeram da corrupção a nova moeda nacional. Acordei sobressaltado, e limpei o suor que me escorria pela testa. «Trata-se apenas de oficializar uma realidade», admiti a custo.
ALERTA VERMELHO. Se não for agora, quando será? Se não formos nós, quem há-de ser?
António Aly Silva