terça-feira, 12 de outubro de 2004

Perdemos todos...


Fotografia (c) António Aly Silva 2004-proibida qualquer reprodução

Os tristes acontecimentos do passado dia 6 do corrente, em Bissau, podem, apenas e só servir-nos de lição. Uma vez mais. Importa, entretanto, saber qual o verdadeiro nível dos nossos políticos. A questão, dos tempos de antanho, já tem barbas mas continua a fazer todo o sentido.
A tragédia que se abateu sobre o país com as mortes do general Veríssimo Correia Seabra, chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, e do Coronel Domingos Barros, não podem passar impunes: é preciso apurar responsabilidades e punir os culpados para, assim, parar de vez com esta orgia desenfreada de pegar nas armas para resolver problemas.
Também nesta crise, como em todas as outras, soube-se até onde podem regredir os nossos políticos. A linguagem descambou e entrou num nível arruaceiro e irresponsável: é descredibilizante para os políticos, desinteressante para o eleitorado (temos eleições à porta...), afuguentador das massas, e – é isso que preocupa mais – provocante para os ignorantes. Não se pode assassinar um chefe do Estado-Maior General sem que daí se retirem as devidas ilações.
Deu dó ouvir o líder de um partido falar numa conferência de imprensa camuflada: não se lhe ouviu – pese embora a ‘provocação' de alguma comunicação social – nenhuma condenação da sublevação.
Ultrapassar a fasquia do moralmente aceitável é sinal evidente de que ainda não temos políticos preparados para conduzir o país rumo a um clima estável e com uma economia saudável. A gritaria dos nossos políticos da oposição quando a situação exige calma e ponderação, a utilização de raciocínios fáceis e populistas só prejudica o verdadeiro trabalho do político, que deveria ser aquele que dirige - neste caso o PAIGC.
A oposição entrou no desnorte, na perda do sentido de Estado e, sobretudo, de credibilidade. E, nesse caso, não estão cá a fazer nada. Para esse partido da oposição, a utilização do vocabulário arrogante e desmesurado só lhe retira a capacidade de um dia voltar ao Governo; para toda a restante oposição, a linguagem básica é algo normal, assim como alguma provocação, porque essa é a única forma de superar a falta de votos. É algo tão grave que só faz resvalar o pouco nível a que os nossos políticos estão votados.
Uma operação de rejuvenescimento impõe-se na ‘indústria’ dos políticos. Essa limpeza pode começar já depois da crise até porque o verdadeiro perigo está nos ausentes da política, porque esses não se revêm em nada nem em ninguém credível, mas potenciam a abertura das portas aos grupos radicais. É preciso que o mundo pare de nos ver (e ter) como uns grandes animais.